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Gaeco expõe a força do “Narcopix” em meio à polêmica sobre fiscalização do sistema

Quadrilha de tráfico de drogas em Mato Grosso do Sul utilizava o Pix para movimentar dinheiro ilícito, enquanto o governo federal recua de medida que ampliaria a fiscalização do sistema de pagamentos.

A recente polêmica sobre o monitoramento de transações via Pix pela Receita Federal ganhou novos contornos com a revelação de que organizações criminosas utilizam o sistema para movimentar grandes quantias de dinheiro. A Operação Snow 2, conduzida pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), desmantelou uma quadrilha de tráfico de cocaína que operava em Ponta Porã e Campo Grande (MS) e utilizava o Pix como principal meio de pagamento e distribuição de lucros.

O grupo criminoso enviava drogas para São Paulo e outros estados, enquanto seus financiadores realizavam transações milionárias diretamente pelo sistema de pagamentos instantâneos.

Movimentações financeiras via Pix expostas pelo Gaeco

A investigação revelou um esquema sofisticado de financiamento do tráfico por meio de transações bancárias digitais. Segundo a denúncia, os valores transferidos variavam entre R$ 10 mil e R$ 100 mil, incluindo um repasse de R$ 119 mil feito por Joesley da Rosa, líder da organização, a Diego Fernandes da Silva, um dos operadores do esquema.

O dinheiro foi utilizado para liberar um caminhão que serviu como garantia em uma das operações da quadrilha.

O maior Pix identificado foi uma transferência de R$ 100 mil feita por Emerson Corrêa Monteiro, morador de um condomínio de luxo em Campo Grande, para Jéssika Farias da Silva, que, segundo o Gaeco, usava a conta para financiar novas operações da quadrilha.

Outro indício da lucratividade do esquema foi um “empréstimo” de R$ 50 mil feito por Emerson à quadrilha. Seis meses depois, ele recebeu um retorno de R$ 75 mil, uma valorização de 50%, comprovando o alto lucro da organização criminosa.

“Esse tipo de rendimento só pode ser obtido com participação em atividade ilícita, no caso, o tráfico de drogas”, afirmaram os promotores na denúncia.

Advogados e mulheres gerenciavam a parte financeira do esquema

A investigação do Gaeco também revelou que advogados atuavam diretamente no esquema, prestando consultoria jurídica e facilitando a liberação de veículos apreendidos. Antônio César Jesuíno recebeu transferências bancárias suspeitas, enquanto Vlandon Xavier Avelino, embora não tenha sido identificado como beneficiário de transações via Pix, possuía registros de pagamento e fotos ao lado de grandes quantias de dinheiro vivo.

Na estrutura financeira da organização, as mulheres desempenhavam um papel fundamental. Jéssika Farias da Silva, mulher de Rodney Gonçalves Medina, e Mikeli Miranda de Souza, mulher de Joesley da Rosa, movimentavam dinheiro do tráfico em contas pessoais. Mikeli, inclusive, utilizava celulares exclusivos para abrir novas contas bancárias e garantir a segurança das transações.

Logística do tráfico e uso de transportadoras

A quadrilha utilizava caminhões frigoríficos equipados com compartimentos ocultos para transportar drogas junto com cargas de produtos perecíveis, dificultando a ação da polícia.

Além disso, a organização explorava a estrutura da Transportadora Print Ltda, terceirizada dos Correios, para envio de entorpecentes. O coordenador de logística da empresa, Rodrigo de Carvalho Ribas, era responsável por organizar o transporte das drogas, mascarando as atividades ilícitas com o uso da transportadora.

A quadrilha também corrompia policiais civis, que forneciam informações sigilosas e até utilizavam viaturas oficiais para facilitar a movimentação da droga. Entre os agentes envolvidos estava Gustavo Cristado de Arantes, escrivão da Delegacia de Ribas do Rio Pardo, alvo da Operação Snow 2.

Recuo do governo sobre fiscalização do Pix

A revelação do uso do Pix por organizações criminosas ocorre em meio a uma forte polêmica nacional sobre a tentativa do governo de ampliar a fiscalização sobre transações acima de R$ 5 mil mensais.

O objetivo da medida era reforçar o combate à sonegação fiscal e à lavagem de dinheiro, mas a proposta gerou críticas por supostamente violar a privacidade dos cidadãos e abrir espaço para um possível aumento na tributação de operações financeiras.

Diante da repercussão negativa, o governo revogou a portaria, alegando que houve uma distorção das informações e que a proposta não visava taxar o Pix. No entanto, o caso evidenciou um dilema entre segurança e privacidade no combate ao crime financeiro.

O Pix, por sua rapidez e facilidade, tornou-se um instrumento útil para criminosos ocultarem a origem ilícita de recursos.

Agora, o desafio do governo será encontrar um equilíbrio entre fiscalização eficiente e preservação dos direitos dos cidadãos, sem comprometer o funcionamento da economia e a confiança no sistema de pagamentos instantâneos.

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